Saudade não tem fim

Chegada dos imigrantes à Mucajai. Acervo da família Germiniano de Almeida.

Na roda de pescadores
Quantos amores
Tantos sonhos se tornaram realidade
O rio é o meu, o seu Mucajaí
Batelão, canoa, barco por aqui
Trouxeram saudade.

A vila que se fez cidade
Outras paisagens
Progresso foi chegando pelo rio
Com ele veio à fé, Nossa Senhora,
Ricardo, Padre Santo, povo em glória
Missa e batismo.

A ponte ligou as estradas
Por baixo da ponte outras águas
Outras lendas, outros brasis.
Rufina pescou, foi pescada
Fisgou Surubim, Pirarara
Cobra grande, mãe do rio.

Do Sul e também do Nordeste
Povo do agreste
Chegaram com sonhos no seu matulão
Plantaram gado, arroz, milho e feijão
Nas festas juninas cantaram o rei do baião
Boi de Papete.

No meu carimbó tem baião
Pinduca, Luís, Cumpadão
Puxa a rede, pescador!
Tem Maria, Salomão
Stênio com seu bandolim
Zé do Banjo, o pandeiro do João Quininha...

Tem minhas dores e amores
Vidas em cores
Sagradas e profanas paixões
Com essa gente construí minha história
Hoje canto emocionado nossas glórias
Saudade não tem fim.


Análise:


A “Poesia” (2016) pode ser caracterizada como uma metapoesia, pois nela verifica-se que o eu lírico expressa-se sobre o conhecimento do fazer poético, em que evidência, inicialmente, a escrita poesia como “o encontro do autor consigo mesmo e com o leitor” (DANTAS 2016, p. 02) 

Nos dois primeiros versos, temos que a poesia, para o eu lírico, é “coisa divina, revelação”, relembrando conceitos da tradição clássica, advindas das epopeias gregas, nas quais, o poeta contava com o auxílio dos deuses e das musas inspiradoras para que a divina revelação viesse a lhe conceder o dom de transpor em palavras, as emoções e os feitos do homem. 

Na segunda estrofe do poema, verificamos que a poesia é concebida como matéria prima da palavra, visa essencialmente expor emoções, sentimentos, intenções. Assim como, na terceira estrofe, tal ideia é reforçada, incluindo que além de sentimento, ela também é “passatempo e comunicação”. 

Em relação à quarta estrofe, a “liberdade poética” a aparece como marca do processo de produção do autor, cuja preocupação, expressa pelo eu lírico, não está no estilo: épico, narrativo, satírico, etc. Afinal, para ele, como destaca na última estrofe, nada disso, importa. O que importa, é o que a poesia causará no leitor. As impressões e sentimentos deste, são de maior valia. Tais ideias expressas no poema vão de encontro ao que o poeta Ernandes Dantas revelou em entrevista, quando indagado a respeito do seu processo de criação. Ele alegou que não segue um estilo único, ou tendência, tão pouco, escreve para um público específico, pois confidenciou que a poesia lhe serve como escudo para espantar seus fantasmas e expor suas emoções. Mais do que rebuscamento, o autor, busca, na composição de seus poemas, a simplicidade e a liberdade de seu fazer a artístico, tal como elucida o eu lírico de “poesia”.

Analisado por:
Acadêmica: Adriana de Oliveira Teixeira Kató
Instituição: Universidade Federal de Roraima.

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