Canaimé. Matador de almas



Parente anda triste pela aldeia

Ficou sem brilho no olhar, sem sangue na veia

Não consegue passos firmes, está sem esperança

Pajé prometeu animá-lo, com tajá, numa pajelança.

 

A aldeia pressentiu o fato acontecido

A floresta anunciou o parente perdido

Mas o silêncio, logo depois, pairou pelo ar

Ninguém arriscou sobre o assunto comentar.

 

Será covardia, medo mesmo, ou o que será?

Por que a aldeia não ousa o pavor manifestar?

Sabe-se que um dia ele chegará espreitando

Entre as árvores da floresta, uma vítima procurando.

 

Nem um guerreiro sozinho conseguiu lhe capturar

Canaimé é assustador e forte, pois toma sumo da planta tajá

A planta lhe deu poderes sobrenaturais

O temido matador que se transforma em animais.

 

Parente foi atacado pelo bicho rabudo

Por isso, parente se encontra moribundo

Sem apetite, sem ânimo, andando sem memória para o nada

Definhando pelos cantos, sem vida, desaba.

 

Canaimé para os povos originários da floresta

Não é lenda, não é mito, é realidade pura

Ele ataca na forma de um animal voador ou rabudo

E depois pelo lavrado, o corpo desfigura.

 

Da vítima, profana seu corpo e retira sua alma

E vigia sua presa até a morte lhe alcançar

Para depois de morta, da putrefação se embriagar

Alcançando força para outro parente castigar.

 

O pajé prometeu para a aldeia a cura

Mas a cura da aldeia é matar o Canaimé!

Guerreiro com bala de cêra lhe fura

Mas difícil é vê-lo do invisível transfigurar.

 

Canaimé quando quer atacar é arteiro

Pode vir pelo ar como rasga mortalha ou morcego

E pelo chão pode transformasse em qualquer bicho certeiro:

Queixada, tatu, raposa, macaco, tamanduá lavradeiro.

 

Somente os pajés conseguem ver o Canaimé

Pajé e o grande guerreiro, juntos, são a esperança

Com a defumação de pelos do macaco cuatá

Enlouquecer o Canaimé e por fim na matança.

 

Não é história da comunidade ingaricó, wapichana.

Não é história da comunidade macuxi e ianomâmi

Lenda, mito, ficção ou fato na história de Roraima

Canaimé é bicho rabudo, matador de almas!

 

Muitos dizem que ele migrou da Guiana Inglesa

Da Kuado Kuando, serra dos Canaimés

Outros dizem que é índio disfarçado de bicho

Atrás de gado, vingança de tribos ou sacrifício.

 

Parente agora está com febre alta, delirando

Canaimé o fez esquecer-se de tudo e ficar sem ânimo

Dentro de uma rede já tem dias de desventura

Sem alma, sem vida, vai acabar se entregando...



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