Uma mãe e um pai não se conjugam no tempo passado


Éramos seis crianças quando a morte tirou você de nós
Deixando-nos sem chão, sem coração, surdos e sem voz
Estáticos entre tantas pessoas que nos acalentavam
Dizendo palavras de carinho que, sinceramente,
Não as escutávamos.

Foi doloroso demais lhe vermos apagada naquele leito
E tua vida derramada pelo piso cinzento, da casa de madeira
Disseram para nós que foi eclampsia a causa do teu sofrimento
Naquele parto que se transformou em míngua, descaso médico,
Nosso desalento.

Benjamin, último filho, brotado da tua trágica agonia
Sete meses depois, também se foi, ao chamado divino
E mais uma vez a tristeza nos fez anjos, peregrinos
Desse pesadelo, que é viver e sofrer
Pelo destino.

Um imenso vazio e uma sensação ruim de amputação
Marcaram nossa existência nos dias e meses que seguiram
Ficamos alheios à vida, as coisas que nos diziam, concentrados na dor
Perdidos entre os parentes, entre poucos amigos,
E o pavor.

O medo de estarmos sem mãe, sozinhos no mundo, nos uniu
E o tempo que parecia está parado, aos poucos, nos erguiu
Moramos, a partir de então, com os nossos avós maternos
Maria de Lourdes e Salomão Dantas nos deram educação,
Carinho e um teto.

Inventamos razões para seguirmos em frente com a nossa caminhada
Aprendemos a conviver com a dor que se transformava com a lida diária
O pai sempre distante não nos dava a atenção, lutando contra a sorte
Sonhando com riqueza material, findou-se assassinado,
Em um garimpo do Norte...

Eles não se foram... Eles são e estão em nosso presente
E assim permanecerão intactos, vivos em nossas mentes
Por mais que os dias e os anos tenham acontecidos,
Por mais que as experiências continuem transformando os fatos ocorridos
Uma mãe e um pai não se conjugam no tempo passado.

Postar um comentário

0 Comentários